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Mais saudáveis e felizes! Ex-anoréxicas contam como venceram o distúrbio
Movimente-se 09/08/2019

Mais saudáveis e felizes! Ex-anoréxicas contam como venceram o distúrbio

A anorexia é um distúrbio de imagem que faz com que a pessoa se enxergue de maneira muito distorcida da qual ela é de fato (geralmente, com maior peso e maior tamanho). Ainda não se chegou a um consenso sobre o que motiva de fato a anorexia nervosa, embora vários fatores psicológicos possam contribuir, além de ambientais e da influência midiática e social.

Para atingir seu objetivo, pessoas anoréxicas exercitam-se com muita frequência e em excesso, cortam os alimentos em pedaços minúsculos no prato e fazem uso constante de diuréticos e laxantes. É natural que anoréxicos também desenvolvam bulimia (um distúrbio de compensação, que consiste em induzir vômitos e uso de laxantes para expelir o que já comeu).

Apesar da pressão social (e muitas vezes familiar) pela obsessão do corpo perfeito, cada vez mais as pessoas estão se conscientizando que ser saudável – mantendo uma alimentação balanceada e praticando exercícios físicos – é o que realmente importa e proporciona bem-estar físico e psicológico. Para entender melhor sobre esse problema e como superá-lo, conversamos com ex-anoréxicas que conseguiram vencer o distúrbio e hoje mantém uma vida mais saudável e feliz.

Sara, 19 anos: ‘Comecei pulando os almoços’

Muitas vezes a anorexia é desencadeada por fatores externos, como o bullying escolar, ou comentários de familiares e amigos. É o que conta Sara*, de 19 anos. “Eu nunca fui gorda, mas também não era magrinha, e isso nunca tinha realmente me incomodado até as pessoas começarem a comentar. Era geralmente algum tipo de comentário meio bobo, tipo ‘você vai comer isso tudo?’ ou ‘tira um pouco de molho dessa pizza porque você vai ficar gorda’. Eu tinha 13 anos e isso começou a virar uma obsessão, sabe?”.

Sara diz que apesar de não ver o corpo gordo como algo ruim ou feio, isso era sempre dito a ela de forma pejorativa, o que fez com que ela se enxergasse de uma forma cada vez mais negativa. “Eu comecei pulando os almoços. Comia de manhã e lanchava a noite. Meus pais não estavam em casa no almoço, e por isso não percebiam, então estava tudo bem pra mim (apesar da tontura que eu percebi que tinha quando parava de comer por muito tempo)”, relata. “Mas aí eu ia emagrecendo e olhando no espelho e criando a necessidade de me pesar todos os dias, de manhã e de noite, e não importava o quanto meu peso diminuísse, eu continuava me vendo horrível e gigante”.

A obsessão pela magreza fez com que Sara passasse a criar hábitos perigosos, como se pesar com muita frequência, contar calorias, pular refeições e progressivamente, parar de comer durante períodos inteiros. “A anorexia é sobre uma falsa sensação de controle, sabe? Você conta as calorias e estabelece metas diárias pra se sentir no controle do seu corpo, enquanto é a doença que tá te controlando”.

Mariana, 24 anos: ‘Fiquei por alguns anos controlando tudo que eu comia’

Pessoas que têm ou já tiveram anorexia geralmente relatam o excesso de controle sobre calorias e exercícios físicos até a exaustão. Mariana*, de 24 anos, relata ter adoecido na tentativa de evitar olhares e investidas masculinas, emagrecendo e ficando menos corpulenta, e isso se tornou compulsivo quando começou a se exceder na dieta. “Fiquei por alguns anos controlando tudo que eu comia, as calorias, me exercitando muito mais do que o necessário, comendo muito menos do que deveria, porque aquele corpo esguio, na minha cabeça, ia me ‘resguardar’ de um monte de abusos e de um monte de situações”, lembra.

Joana, 27 anos: ‘Passava fome o dia todo’

Para Joana*, de 27 anos, a anorexia surgiu de um relacionamento abusivo, em que seu ex namorado a coagia a emagrecer cada vez mais, dizendo que isso a deixaria mais bonita. “Pra chegar aos 50 kg, ele me oferecia presentes e dinheiro”, conta. “Eu passava fome o dia todo, lembro de ter uma agenda na qual anotava minha pesagem todo dia pela manhã, a roupa que eu estava usando, se tinha evacuado ou não.” A consequência de tanto controle foi perigosa, e arriscou a vida de Joana. “Eu estava pesando 43 kg com 1,68 m na pior fase da doença. Não cheguei a ser internada, porque por pouco consegui de algum modo voltar a comer o mínimo para a sobrevivência”.

Terapia e uma alimentação mais saudável ajudaram a superar a doença

Superar a anorexia não é um processo fácil e demanda esforço e força de vontade. “Essas coisas ficam meio que pra sempre na cabeça, a terapia é meio que um paliativo”, conta Mariana, que hoje já possui um peso saudável. É consenso que o acompanhamento psicológico fez diferença fundamental no processo de melhora. “Eu faço terapia hoje em dia e tenho uma rede de amigos incrível, muito mesmo, e acho que a maioria das barras eles que seguraram”, revela Joana, que hoje voltou a ter um peso saudável. “Esse ano li ‘O Mito da Beleza’ e consegui ter uma visão maior das coisas, que não sou só eu essa vítima da ditadura da beleza, que o índice de anoréxicas cresce a cada dia e que isso vende produtos”.

Para ela, o apoio foi fundamental, algo que também é destacado por Sara. “Eu tenho um amigo que me ajudou muito com isso, apesar de nunca falarmos disso diretamente”. Sara ainda faz uso de vitaminas para repor os nutrientes perdidos no período da doença, faz tratamento psicológico e psiquiátrico e se recupera aos poucos. Mariana também relata fazer terapia até hoje, mas revela que mudar a alimentação também foi decisivo. “Eu tento priorizar coisas mais saudáveis na medida do possível”, finaliza a assistente de comunicação.

*Todos os nomes foram modificados para preservar a identidade das entrevistadas